O
Impacto de Rushdoony
sobre
a Escatologia
Martin G. Selbrede
Tradução: Felipe Sabino
de Araújo Neto1
Pós-Milenismo.
A escatologia que ensinava que o mundo inteiro seria
convertido
a Cristo antes do Seu retorno em glória e a introdução da
eternidade.
A visão que tratava a Grande Comissão como sendo maior que os limites da
imaginação debilitada do homem. A idéia que Jesus Cristo seria um dia literalmente
o Salvador do Mundo (João 4:42) ao atrair todos os homens para Si
(João
12:32).
Pós-Milenismo.
No começo da década de 1970, era a comédia das
escatologias:
não tinha nenhum respeito. Era a escatologia que ninguém
levava
a sério. Os pós-milenistas eram vistos como os defensores da terraquadrada
no
mundo da escatologia. Eles eram desprezados como antibíblicos
sobre
a autoridade de eruditos dos outros campos, que rotularam os pósmilenistas
como
estando seriamente em desacordo com a Escritura e com o
mundo
no qual vivemos. A teoria era irrealista, desacreditada, sem
fundamento
e privava a Igreja da bendita esperança (como os eruditos da
oposição
a definiam).2
O
pós-milenismo foi declarado como estando morto, com nenhuma
voz
viva para se levantar em sua defesa. Se os seminaristas encontrassem
vestígios
dele nas obras dos Puritanos ou eruditos como Hodge e Warfield,
eles
eram advertidos a ignorar essa fraqueza na de outra forma impecável
erudição
bíblica daqueles homens: “Nós sabemos mais agora.” Como Hal
Lindsey
disse dos Reformadores, eles estavam em trevas no que diz respeito à
profecia
e sua interpretação.
As
coisas deterioraram-se ao ponto que o pós-milenismo foi
efetivamente
“assassinado”, como evidenciado pelo título do livro “Pré-
Milenismo
ou Amilenismo”,3 um título que nega implicitamente que o pósmilenismo
seja
uma opção legítima digna de consideração. Além de não ser
um
jogador, o pós-milenismo não estava nem mesmo no banco. Oswald T.
Allis
escolheu guardar seu pós-milenismo para si mesmo, preferindo o rótulo
mais
respeitável de “anti-quiliasta” (anti-pré-milenista), pelo menos até o
tempo
quando o livro de Roderick Campbell, Israel and the New Covenant [Israel
e
o Novo Pacto], foi impresso pela primeira vez. O pós-milenista Benjamin
Breckinridge
Warfield, um teólogo altamente respeitado do Seminário
Teológico
de Princeton, morreu em 1921. O dr. Loraine Boettner entrou em
Princeton
somente oito anos mais tarde – Warfield e Boettner nunca se
encontraram.
Mas Boettner se tornaria o único pós-milenista com
testosterona
espiritual suficiente para escrever, em meados do século 20, um
livro
que realmente defendia a posição pós-milenista. Era ele uma voz
solitária,
clamando no deserto,4 ou apenas um fóssil irrelevante? Em termos
de
influência no tempo, este velho cavalheiro cristão, firmado nos valores de
uma
geração anterior, foi convenientemente estereotipado como um
retrocesso
excêntrico a uma era menos informada. Avaliação: um fóssil.
Mas
então alguém novo apareceu na festa teológica. Uma silhueta de
um
estranho apareceu na porta de entrada. A música parou, e os seguranças
olharam
confusos. Um dos eruditos cristãos mais exímios do final do século
vinte
tinha entrado na questão da escatologia. O dr. R. J. Rushdoony, que
tinha
lido Warfield vorazmente em sua juventude, que tinha conhecido
Boettner
pessoalmente, não era apenas um pós-milenista, mas começou a
promever
a posição ativamente.
Em
1970, seus comentários sobre Daniel e Apocalipse (Thy Kingdom
Come)
foram publicados. Em 1971, seu prefácio apareceu na antologia de J.
Marcellus
Kik intitulada An Eschatology of Victory [Uma Escatologia de Vitória].
The
Journal of Christian Reconstruction (O Jornal da
Reconstrução Cristã), que a
Chalcedon
publicava,
convocou um Simpósio sobre o Milênio em 1976,
enquanto
1978 viu a publicação de um breve, porém poderoso livreto, God’s
Plan for
Victory: The Meaning of Postmillennialism [O Plano de Deus para a Vitória:
O
Significado do Pós-Milenismo].
Como
os pós-milenistas esperam uma influência em longo prazo,
Rushdoony
não se importava com a ausência de resultados instantâneos, mas
trabalhava
pacientemente para edificar fundamentos que resistiriam à prova
do
tempo. O lento renascimento do pós-milenismo se assemelha ao milagre
do
fio de água que vira primeiro riacho e depois um rio, registrado em
Ezequiel
47:1-6: movemos-nos desde uma ausência quase total de pósmilenistas
até
chegar ao tornozelo, até chegar ao joelho e em breve chegarão
até
a cintura e mais acima. “Viste isto, filho do homem?” (v. 6). Outros
eruditos
notáveis tinham subido no trem, escrevendo, ensinando, publicando,
persuadindo,
sendo direta ou indiretamente influenciados pela liderança de
Rushdoony
(e da Chalcedon). Pode ter sido verdade que na década de 1960,
como Hal Lindsey afirma em
seu best-seller The Late Great Planet Earth,5
nenhum
erudito que se respeitava, ao olhar para as condições do mundo,
chamaria
a si mesmo de um pós-milenista. Era preciso alguém mais
preocupado
com a Escritura do que com o respeito próprio, mais preocupado
com
a lei-palavra de Deus do que com as condições mundiais, para alterar a
direção
do discurso escatológico. Rushdoony mudou a cara do debate
milenarista
no final do século vinte, muito antes de ser respeitável o fato de
alguém
ser um pós-milenista. No processo, ele não tornou o pós-milenismo
apenas
respeitável. Ele o tornou formidável!
Esse não é o Pós-milenismo do seu Pai.
Ou é?
Agora
que o pós-milenismo está de volta ao cenário escatológico, seus
críticos
têm descoberto que têm um terceiro candidato nada bem vindo em
suas
mãos. Duas guerras mundiais não foram suficientes para matar essa
teoria
irrealista e super-otimista? Aparentemente não.
Os
pós-milenistas do século dezenove tiveram que aprender algumas
lições
da história que poderiam ter aprendido mais facilmente das Escrituras,
com
respeito ao curso do império mundial como o concebe o pós-milenismo.
Eles
pensavam que Deus estava para terminar de sacudir os céus e a terra (Hb.
12:26-27),
que a Pedra cortada sem auxílio de mãos humanas já tinha
esmagado
as nações e consumido-as, que o progresso em linha reta estava
assegurado.
Eles tendiam a ler as Escrituras em termos dos tempos (um
fenômeno
ainda difundido hoje em dia entre outras escatologias).6
Os
pós-milenistas hoje foram libertos dessa tendência de andar por
vista,
de organizar os registros bíblicos para que se ajustem ao momento
existencial,
em vez de avaliar o momento existencial em termos da Palavra de
Deus
profética. Foram necessárias duas guerras mundiais para destruir essa
influência,
para ressucitar o pós-milenismo somente sobre a autoridade da
Palavra
e rejeitar a tentação de construir escatologias a partir da areia
movediça
dos eventos mundiais. Mesmo seus críticos concordam que o pós-
milenismo
moderno baseia toda a sua confiança em seu entendimento da
Palavra,
e não nos feitos do homem sobre a Terra. O comentário ousado de
Greg
Bahnsen, citando Romanos 3:4, passou a marcar a fé pós-milenista nas
promessas
de Deus: “Seja Deus verdadeiro, mas todo homem mentiroso.”
Em
face de um pós-milenismo revigorizado, os críticos têm abordado a
teoria
a partir de alguns novos ângulos, procurando uma fissura conveniente
na
armadura. No caso de Rushdoony, era impossível relacionar o seu pósmilenismo
com
o milenarismo do evangelho social de Rauschenbach ou dos
unitários
(pós-milenismo não elaborado com base na Palavra, mas sobre uma
confiança
humanista num evangelho fundamentalmente estatista). Mas o
envolvimento
de Rushdoony inspirou um novo rótulo, uma nova
classificação.
De
repente, o pós-milenismo de Rushdoony foi denominado de pósmilenismo
teonômico,
para distingui-lo do pós-milenismo “mais bondoso, gentil e
suave”
do passado, afetuosamente chamado de pós-milenismo evangélico.7 Os
partidários
do amilenismo e do pré-milenismo na verdade não tinham
nenhuma
afeição pela forma anterior de pós-milenismo, sem dúvida, mas ao
se
referirem a ele nostalgicamente como “mais suave”, davam a entender que
o
pós-milenismo de Rushdoony era implicitamente áspero: um bicho
inteiramente
novo. Os polemistas introduziram uma cunha argumentativa
entre
pós-milenismo teonômico e pós-milenismo evangélico. Na prática
estavam
dizendo: “Se você tem que ser um pós-milenista, seja um da velha
escola
como os calmos Boettner, Hodge ou Warfield,8 os sujeitos agradáveis
da
quadra que não faziam barulho”. Visto que os teonomistas são
desagradáveis
e divisivos, o pós-milenismo teonômico é simplesmente a
mesma
coisa. Na verdade, provavelmente seja pior: ensina o triunfo da
teonomia.
Que necessidade temos de testemunhos adicionais?
A
implicação levantada é que, visto que a forma anterior é “evangélica”,
a
forma moderna não é evangélica. A escolha dos termos não é acidental, mas
destinada
a projetar nos pós-milenistas de hoje uma luz negativa, por
inferência,
se não explicitamente.
Não
pode ser negado que Rushdoony forneceu uma espinha dorsal
para
o pós-milenismo moderno. Foi isso verdadeiramente uma inovação?
Dificilmente.
A maioria dos Puritanos era pós-milenista, e estavam muito mais
perto
dos ensinos éticos de Rushdoony do que das teorias da lei propostas
pelos
envangélicos modernos (e.g., dr. Norman Geisler, etc.). Mesmo se não
considerarmos
a sua oposição firme ao contingente antinomianista, a maioria
dos
Puritanos representava um movimento teonômico incipiente
notavelmente
forte.
Muitas
passagens-chave pós-milenistas têm um conteúdo teonômico
evidente.
O Novo Pacto não envolvia apenas que cada um, do menor ao
maoir,
conhecesse ao Senhor, mas também envolve Deus escrevendo Sua lei
em
seus corações e mentes (Jr. 31:33; Hb. 8:10, 10:16). A profecia em Isaías
42:1-4
conclui afirmando que as ilhas aguardarão pela lei de Deus, enquanto
Isaías
2:3 fala da lei radiando em todo o mundo. Existem dezenas de
passagens
semelhantes, e seu significado certamente não escapou aos
Puritanos.
O
pacote “pós-milenismo teonômico” não é novo, nem Rushdoony o
inventou.
Ele meramente ajudou a colocar o pós-milenismo de volta ao seu
lugar
apropriado, depois que os defensores da forma evangélica e mais suave
da
teoria viram seus pontos de vista apropriadamente enfraquecidos pelo
século
mais sangrento da história humana registrada. O pós-milenismo tinha
se
desenvolvido longe do componente teonômico que estava no centro da
esperança
Puritana. Rushdoony apenas reacoplou o que os anteriores teólogos
pós-Puritanos
tinham permitido se apartar. Nas palavras de Isaías 58:12,
Rushdoony
se tornou um reparador de brechas.
Rushdoony e os “Ismos” Hermenêuticos
Rushdoony
tinha suas preferências ao tratar com o livro de Apocalipse.
Ele
adotou a abordagem idealista. O idealismo trata a maior parte do livro
como
lidando como o período inteiro entre os adventos de Cristo, não
necessariamente
na ordem cronológica, com algumas passagens se referindo a
coisas
celestiais em vez de terrenas. Em outras palavras, o idealismo é uma
abordagem
do Quadro Geral: Apocalipse cobre muitos séculos de tempo.
O
historicismo concorda com o idealismo que o Apocalipse descreve o
período
inter-advento, mas diferente dele, vê uma clara sucessão cronológica
na
narrativa de João. O comentário do dr. Francis Nigel Lee sobre Apocalipse
é
um forte exemplo de uma obra pós-milenista escrita a partir da perspectiva
historicista.
O dr. Rushdoony e o dr. Lee tinham as melhores relações, e
Rushdoony
respeitava e apoiava o historicismo do dr. Lee, a despeito de sua
preferência
permanente pelo idealismo.
O
preterismo parcial trata Apocalipse predominantemente como uma
descrição
do divórcio de Deus de Israel e seu despojamento. Entende-se que
o
livro foi escrito antes da queda de Jerusalém com base numa evidência
interna
reconhecidamente forte. À luz disso, poderia se considerar que a
maior
parte de Apocalipse cumpriu-se no primeiro século depois de Cristo.
Rushdoony
não somente respeitava o preterismo parcial, mas apoiou a
publicação
de comentários que promoviam essa abordagem do livro de
Apocalipse.
Ele fez isso, embora em última instância discordasse desses
volumes,
o que indica a importância que ele atribuía em estender a erudição
bíblica
a todas as áreas plausíveis que fossem relevantes para a questão pósmilenista.
O
leitor deveria observar que nenhuma dessas abordagens para
interpretar
Apocalipse são intrisicamente pós-milenistas. Por exemplo, entre
os
amilenistas alguém pode encontrar idealistas (e.g., William Hendriksen) e
preteristas
parciais (e.g., Jay Adams). O futurismo (associado primariamente
com
a erudição pré-milenista) também pode cruzar fronteiras teológicas.
Portanto,
qualquer abordagem hermenêutica de Apocalipse pode seguir
uma
das diversas encruzilhadas teológicas que se apresentam no caminho. A
tenda
teológica de Rushdoony é maior que a maioria dos seus discípulos
estaria
disposto a considerar. Uma fração significante deles tem optado pelo
preterismo
parcial como a última palavra na interpretação profética, uma visão
que
Rushdoony teria rejeitado. Acho que ele concordaria com a minha
avaliação
que, num exame criterioso amigável, o preterismo parcial deve ser
freqüentemente
tirado do Pedestal da Certeza para o mais modesto Palco da
Plausibilidade,
isto é, que é prematuro tratar o preterismo parcial como se esse
fosse
canônico.
Mas
Rushdoony desejava ardentemente que esse espírito de exame
detalhado
continuasse e que fosse praticado no melhor espírito da erudição
conservadora
cristã. A abordagem da sua grande tenda só poderia reforçar o
pós-milenismo,
segundo ele entendia. Os campos entrincheirados de hoje não
adotam
a abordagem inclusiva de Rushdoony. Os herdeiros de Rushdoony
receberam
sua perspectiva pós-milenista, mas têm colocado as suas heranças
hermenêuticas
numa única cesta. O grande milagre é que há o suficiente de
pós-milenistas
ao nosso redor para discordar sobre o assunto. Estaríamos
numa
melhor forma se mais eruditos pós-milenistas adotassem a posição do
dr.
Kenneth Gentry, que é em primeiro lugar um pós-milenista, e somente
depois
um preterista parcial. Quando as prioridades sábias prevalecem, seguese
um
progresso contínuo.
Rushdoony, o Inovador:
Tomando a Pílula Vermelha
No
filme Matrix, as pessoas escravizadas ao sistema recebiam uma
oportunidade.
Uma pílula vermelha e uma pílula azul era apresentada a elas.
Tome
a pílula azul, e você acordará crendo no que você quer crer, com o status
quo
preservado.
Tome a pílula vermelha, e você verá quão fundo é o buraco
do
coelho, e sua vida mudará radicalmente como consequência do despertar
concomitante.
O
monógrafo de Rushdoony de 41 páginas, God’s Plan for Victory: The
Meaning of
Postmillennialism,
é essa pílula vermelha. Ele é pequeno e
despretencioso.
É realmente uma exposição muito pobre do pós-milenismo,
particularmente
a partir de um ponto de vista exegético. Esse não é o
propósito
desse breve livro: esta tarefa é deixada para outros volumes e outros
eruditos.
Este livro se propôs a uma tarefa absolutamente singular e notável, e
obteve
êxito de uma forma revolucionária. Neste volume, Rushdoony expõe o
significado
de
uma escatologia para a vida real, seu efeito sobre o caminhar
cristão
e no mundo como um todo. Uma leitura superficial poderia levar o
principiante
a crer que é uma peça de rajada teológica. Uma leitura cuidadosa
revela
que Rushdoony preparou uma dinamite cultural numa forma altamente
compacta.
Ele chega perto de ser um livro “para aqueles que têm ouvidos,
ouçam”.
Os que estão casados em primeiro lugar com uma escatologia e com
a
ética bíblica em segundo lugar, deixarão o livro de lado. Aqueles que
percebem
que Deus nos julga por nossos atos e não por nossas orientações
teológicas,
continuarão para encontrar alimento para a mente ali, sejam eles
amilenistas,
dispensacionalistas11 ou indecisos. Homens que dirigem suas
vidas,
não pelo que eles sentem que a Escritura prediz, mas pelo que sabem
que
a Escritura ordena, colocarão Rushdoony ao seu lado. É apropriado que
suas
críticas estejam necessariamente dirigidas à maioria, mas não àqueles que
são
fiéis à Palavra de Deus.
Considere
esses importantes insights que Rushdoony compartilha em
God’s
Plan for Victory (ênfase adicionada):
Se,
em termos de Mateus 6:33, cremos que o Reino de Deus e sua
justiça
têm prioridade em nossas vidas, então não teremos uma visão da
salvação
centrada no eu…
Com
grande freqüência os homens retêm aspectos desse pecado
original
ao insistir que a salvação é o centro do plano de Deus. Deus
busca
a Sua própria glória e propósito; nosso lugar em Seu plano não é o
centro…
É
arrogante para o homem, em divergência clara da Palavra de Deus,
ver
a si mesmo como mais importante no plano de Deus que o próprio
Deus!
Tal visão é um eco do pecado original do homem. (p. 3)
Uma
atitude antinomiana garante a impotência e a derrota de todas as
igrejas
que a mantém. Elas podem prosperar como conventos ou retiros do
mundo,
mas nunca como um exército conquistador de Deus.
[Conseqüentemente],
o papel da Igreja… é o de ser, não apenas uma
agência
de salvação de almas, mas também um convento, um retiro do
mundo
horrível ao nosso redor… o Protestantismo transformou a
Igreja
toda num retiro do mundo, faltando apenas o celibato sacerdotal.
Os
homens são chamados a retirar-se do mundo para a igreja.
(p. 11)
Um
erudito secular, George Shepperson, comentou: “O pré-milenismo
sempre
significa uma profunda desconfiança nas forças ortodoxas de reforma
abertas
à sociedade”. Esse é um ponto de grande
importância… os grupos
milenaristas
são hostis à reforma e reconstrução… Em minha experiência
dentro
de uma das principais igrejas norte-americanas, vi pré-milenistas
deliberadamente,
e por declaração expressa diante de mim, chegar tarde
em
reuniões-chave onde seu voto poderia ter conduzido à reconquista
de
um sínodo, pois recusavam estar envolvidos numa tentativa de
“reformar”
a igreja; isso era para eles uma atividade “não-espiritual”, e
eles
se sentiam seguros que a apostasia era algo ordenado por Deus
como
um prelúdio do “arrebatamento”. (pp. 20-21).
O
Pietismo via a vida em termos essencialmente emocionais e
pessoais…
o objetivo do homem era visto como umas férias eternas
com
o Senhor. O Pietismo produziu uma vida superficial: intelectual e
vocacionalmente.
(p. 27)
Uma
falácia das visões pré-milenista e amilenista é a suposição comum
que
a Queda frustou de alguma forma o propósito original de Deus
como
apresentado no Éden. Mas Deus nunca é frustrado, e nem pode
ser.
Crer nisso é ser um humanista, e o humanismo, onde quer que
esteja,
deve ser estrangulado, pois assume que os caminhos do homem devem
prevalecer
sobre os caminhos de Deus. (p. 28)
Aposentadoria
é um princípio moderno, a reprodução secular da idéia
de
um arrebatamento… O arrebatamento e a aposentadoria são
assumidos
falsamente e significam uma rendição; eles consideram uma
retirada
de exercer o domínio como um privilégio, ao invés de uma tragédia ou
sofrimento.
(p. 29)
A
geração do arrebatamento é a geração inútil. (p. 38)12
Há
uma multidão de excelentes recursos que servem de apio exegético
para
o pós-milenismo: os históricos, procedentes dos grandes eruditos
bíblicos
dos séculos passados, e um número sempre crescente de livros e
conferências
modernos, que são cada vez melhores. Mas entender o significado
dessa
abordagem das Escrituras significa captar as implicações desse
pioneiríssimo
monógrafo de Rushdoony.
O
Ponto Final
No
segundo volume da Systematic Theology de Rushdoony,13 ele investiga
o
significado do termo escatologia (e é ainda mais diligente nesse sentido
durante
a conferência gravada que deu origem ao texto escrito). Nas páginas
785-786,
ele observa que o termo pode se relacionar, não apenas com os
tempos
finais para o mundo, mas com um ponto final. Como diz Rushdoony:
“o
ponto final pode chegar com a morte de um homem, o julgamento de uma
família,
de uma instituição, ou de um povo. Nesse sentido, a história está
continuamente
testemunhando pontos-finais ou eschatons” (p. 785).
Por
que essa distinção é tão crucial? Não é um desvio ou distração da
assim
chamada escatologia cósmica, o fim do mundo, etc.? Esse negócio de
ponto
final é ao menos importante?
Sem
dúvida! O homem moderno usa muitos modelos diferentes para
descrever,
por exemplo, o destino de uma nação ou cultura. O modelo balístico
foi
popular no passado, no qual encontramos a linguagem de trajetórias para
descrever culturas, como no
livro The Rise and Fall of the Roman Empire
[Ascensão
e Queda do Império Romano]. O modelo orgânico, que compara
culturas
e sociedades com um ser vivo também já foi popular, e nele se alude
ao
nascimento, infância, adolescência, maturidade, envelhecimento e morte de
uma
nação ou cultura. Você notará que todos esses modelos omitem Deus e
Seu
governo
providencial sobre o mundo. O destino das sociedades humanas
não se
expressa
em termos de sua fidelidade ao pacto ou ausência desta, mas
descansa
sobre a suposição da inexistência de Deus ou (o que equivale ao
mesmo)
Sua irrelevância.
É
aqui onde a abordagem da escatologia por Rushdoony entra em novo
terreno
crítico, pois ela vê a mão de Deus o Senhor em ação contínua, refletindo
através
disso Sua fidelidade à Sua própria Palavra. Muitos cristãos hoje estão
encarando
o futuro à espera do desenrolar de um suposto cenário do fim dos
tempos,
mas estão cegos para os pontos-finais culturais, eclesiásticos e
pessoais
que estão se revelando desde a sala do trono de Deus, diante dos
olhos
deles; ponto-finais que afetam-nos diretamente.
O
pós-milenismo é freqüentemente criticado por tornar a escatologia
irrelevante
e distante, como se tudo o que oferecesse fosse uma viagem
indiferenciada
a uma meta bem remota. Alguns desejariam que essa caricatura
fosse
verdadeira. A realidade é: Rushdoony tomou a escatologia na direção
inteiramente
oposta. Escatologia não mais significa discernir a coreografia de
Deus
no fim do mundo. Escatologia significa que Deus coloca um fim na sua
cultura,
na sua igreja e em você mesmo, no tempo que Ele apontou, de
acordo
com
o Seu pacto. Rushdoony extraiu a escatologia do Salmo 27 para fora do
presumidamente
seguro Saltério, e desatou seu poder bruto no meio das
nossas
confortáveis salas de estar, santuários de igrejas, salas de aula e salões
do
governo.
Como,
então, poderíamos resumir a influência de Rushdoony sobre a
escatologia,
seu impacto sobre o estudo dos eschatons e dos pontos-finais?
Nenhum comentário:
Postar um comentário